sábado, março 19, 2005

Vamos lá falar a sério...e pôr mãos à obra

Alta velocidade ferroviária divide especialistas

Carlos Cipriano

Mário Lino, novo ministro dos Transportes, encerrou o Congresso do Transporte Ferroviário
O presidente da Rave, Brancaamp Sobral, fez ontem a defesa da última versão do projecto de alta velocidade, respondendo assim às críticas de que vinha a ser alvo em várias intervenções no VI Congresso do Transporte Ferroviário, que terminou ontem em Lisboa.
As mais acutilantes vieram de Castanho Ribeiro, ex-administrador da Rave e vice-presidente da CP Alta Velocidade, que apontou erros técnicos ao projecto no cálculo das velocidades dos comboios na linha Lisboa-Porto. Segundo aquele técnico, a Rave não contemplou a redução da velocidade para passar pelos intercambiadores (aparelhos que permitem à composição circular noutra bitola e sobre os quais os comboios têm de passar a 30km/h), que penalizam a viagem entre as duas cidades em mais 15 minutos em relação ao tempo estimado.
Aquela solução, que mistura rede convencional e rede de alta velocidade, proposta pelo ex-ministro António Mexia, dificulta a exploração comercial e é pouco atractiva para os privados, porque a viagem entre Lisboa e Porto demoraria 1h50 e não 1h10, o que seria possível se toda a linha fosse em alta velocidade. Castanho Ribeiro considerou "retórica" o argumento financeiro, segundo o qual esta solução permitiria adiar os investimentos mais pesados, afirmando que esses valores estão sobreavaliados.
Em resposta, Brancaamp Sobral lembrou que a entrada em Lisboa em alta velocidade implica a construção de 37 quilómetros de túneis e viadutos, que poderão custar 5,2 mil milhões de euros, investimento que seria deixado para uma segunda fase, avançando-se, para já, com uma linha de 230 quilómetros entre o Carregado e a Mealhada que serve de corredor de aceleração onde os comboios podem andar a 250km/h (ou até 300km/h quando toda a linha for integralmente de alta velocidade).
Num congresso onde o conceito de intermodalidade esteve sempre presente, o presidente da Rave disse que fazia todo o sentido que, numa primeira fase, as estações do Oriente e de Campanhã servissem os TGV, pois permitem ligações a vários modos de transporte. "É difícil colocar uma nova estação na cidade sem questionar o que já cá está", disse, adiantando que a gare do Oriente ainda não está paga e tem um serviço da dívida de 35 milhões de euros por ano, pelo que seria difícil explicar aos contribuintes que a mesma não fosse utilizada.
De resto, esta metodologia para a alta velocidade, que foi apresentada em Janeiro pelo anterior Governo, não é incompatível com a construção de uma linha totalmente nova, como foi preconizado durante o congresso. "É uma questão de custos. O Governo vai analisar e decidir e a Rave cá estará para executar", disse Sobral.

Adiar o novo aeroporto
As conclusões do congresso - extensas e muito genéricas - dizem que a alta velocidade deve ser um "desígnio nacional" e acolhem algumas das recomendações de Vítor Constâncio sobre a dificuldade, com base apenas em investimento públicos e comunitários, de realizar em simultâneo a conclusão do plano rodoviário nacional, a alta velocidade, o novo aeroporto internacional e as novas travessias sobre o Tejo. Se for necessário sacrificar algum, que não seja o novo aeroporto, projecto "a adiar", mas sem se "perder de vista".
Outro recado: deve ser a CP a operar a alta velocidade em Portugal, intenção que, porém, contraria as directivas comunitárias sobre a liberalização do sector.
O ministro das Obras Públicas e Transportes, Mário Lino, tudo isto ouviu, mas respondeu com um discurso breve e de "circunstância", como o próprio referiu. Disse que o sector pode contar com ele, que "há um tempo para estudar e outro para decidir e executar", e prometeu para mais tarde pronunciar-se sobre a matéria. Depois remeteu as perguntas dos jornalistas sobre a alta velocidade para o programa do PS, onde é dito genericamente que aquele projecto será para avançar.

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